Cannabis medicinal e o tratamento da Esclerose Múltipla

Recentemente,  Guta Stresser (49) se emocionou em uma entrevista ao programa Fantástico, da Globo, sobre o seu diagnóstico de esclerose múltipla.  A atriz, que interpretou a Bebel na série ‘A Grande Família’, conversou com a repórter Ana Carolina Raimundi sobre as mudanças na rotina. A esclerose múltipla (EM) é uma das doenças mais comuns do sistema nervoso central, afetando o cérebro e a medula espinhal Estima-se que no Brasil, cerca de 40 mil pessoas vivem com a doença.

Medical marijuana prescription with stethoscope . CloseUp.

A esclerose múltipla compromete o sistema nervoso central e atinge principalmente adultos jovens, entre 18 e 55 anos, com pico aos 30 anos, sendo mais comum entre as mulheres. A doença é autoimune, caracterizada pela desmielinização da bainha de mielina, espécie de envoltório das células nervosas por onde passam os impulsos elétricos que controlam as funções do organismo. Esse dano gera interferências nessa transmissão e diversas consequências para os pacientes, como alterações na visão, no equilíbrio e na capacidade muscular. De acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência média da doença no Brasil é de 8,69 para cada 100 mil habitantes. No mundo, estima-se que entre 2 milhões e 2,5 milhões de pessoas convivam com a esclerose múltipla.

Cannabis com fins medicinais

Os fitocanabinoides (extratos de Cannabis) ou medicamentos à base de Cannabis atuam em receptores (proteínas encontradas nas células), nos quais, a associação gera múltiplos sinais em todo o corpo. Esses sinais são revertidos em equilíbrio nas funções celulares. A literatura científica mostra que a combinação de canabinoides (Canabidiol – CBD e Tetraidrocanabinol – THC) é a melhor fórmula testada para aliviar os sintomas e reduzir a neuro-inflamação em experimentos com animais.

Nas pesquisas clínicas (estudos em seres humanos), existe comprovação positiva do uso de CBD+THC é vista em, basicamente, parte dos resultados. No entanto, a combinação ainda é vantajosa, segundo os autores, pois se deve ao fato de os compostos agirem sob efeito sinérgico. Enquanto o CBD reduz a quantidade de citocinas pró-inflamatórias, o THC parece ser mais eficaz na redução da espasticidade.

Pesquisas recentes mostram que os Canabinoides podem ser eficazes na redução da dor neuropática que muitos pacientes com EM enfrentam.

Em uma pesquisa com 28 pacientes portadores da doença com dor neuropática foi utilizado o medicamento Sativex (ou Mevatyl, spray indicado para o alívio da rigidez muscular associada à EM com 1:1 CBD:THC).

74% dos participantes responderam ao medicamento através de um escore de dor neuropática.

Em outra pesquisa realizada com 393 portadores de EM, duplo-cego, grupos paralelos, controlado por placebo, parte dos indivíduos utilizou Sativex (Mevatyl) com uma média de 8,8 jatos do spray/dia e outra parte utilizou um spray inerte.

-50% dos pacientes do grupo Sativex apresentaram redução de 30% nos escores de dor, enquanto 45% dos pacientes do grupo controle apresentaram redução semelhante.

O medicamento Dronabinol também chegou a ser testado em portadores de EM em diferentes doses em relação ao grupo placebo e também, assim como o Sativex, se mostrou uma droga segura em tratamentos a longo prazo para reduzir a dor neuropática. O Dronabidiol é indicado para a dor neuropática na EM devido aos seus efeitos analgésico, sedativo, espasmolítico, antinflamatório e ansiolítico, todos contribuindo para a melhora da qualidade de vida.

A disfunção cognitiva (percepção, atenção, memória e raciocínio) pode afetar até 80% dos portadores de EM e pode gerar efeitos colaterais como dificuldades em relacionamentos, com a família, manutenção de um emprego, o que acarreta queda na qualidade de vida. Uma pergunta que surge é se o uso de produtos/medicamentos de Cannabis pode exacerbar essa condição. As publicações científicas, embora sejam poucas nesse quesito, mostram que não há efeitos psicotomiméticos (alterações psicóticas), sobre o humor ou nas condições cognitivas.

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